quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Vídeo promocional de Elipse número 10!

Galiza: Augusto Fontám, Francisco Pazos,Manoel Bonabal, Ofelia Comesaña, Manuel Blanco, Sabela Carballo, Artur Alonso, Abilio Rodríguez, José André, Xosé María Vila, Alberte Corral e Alfonso Díaz.
Brasil: Paulo José Carneiro,Clarisse da Costa, Vivaldo Terres, Andréa Mascarenhas, Samuel da Costa e Lepota L.
Portugal: Fernando Fitas, Marília Miranda Lopes.
Moçambique: Narciso Balói e Chissano.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Fui eu, madr', a Sam Mamed', u me cuidei

B 1268, V 874
LP 65, 3

Fui eu, madr', a Sam Mamed', u me cuidei
que veess'o meu amig', e nom foi i;
por mui fremosa, que triste m'en parti!
e dix'eu como vos agora direi:
 «Pois i nom vem, sei ῦa rem:
 por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem».

Quand'eu a Sam Mamede fui e nom vi
meu amigo, com que quisera falar
a mui gram sabor, nas ribeiras do mar,
sospirei no coraçom e dix'assi:
 «Pois i nom vem, sei ῦa rem:
 por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem».
Depois que fiz na ermida oraçom
e nom vi o que mi queria gram bem,
com gram pesar filhou-xi-me gram tristem
e dix'eu log’assi esta razom:
 «Pois i nom vem, sei ῦa rem:
 por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem».


Joham de CangasNatural de Cangas de Morraço, península da ria de Vigo. Julga-se que foi um jograr, como o seu nome parece atestar, e por estarem as suas três cantigas integradas no grupo de composições de autoria de jograis galegos nos manuscritos. Nada mais sabemos sobre a sua biografia.
(Publicado em Elipse 4)

sábado, 1 de outubro de 2016

Um mundo em technicolor



Um mundo em technicolor
Estas instantáneas pertencem a duas tribos desse grande mosaico de inigualável riqueza etnográfica que é Etiopia e a_regiom do rio Omo. Na imagem da esquerda umha mulher Bena, tribo emparentada com os_Hamer, dirige-se a um mercado local onde, cousas do «progresso e a moda» já luzirá a_camisola que até esse momento porta por cima da cabeça sem mais cuidado. Este povo, ao igual que os Dassanech, na imagem da outra página, som ainda hoje povos que adicam a meirande parte da sua atividade ao cuidado do gado do que obtenhem junto com outros elementos vegetais o_imprescindível para a sua manutençom, vestido e habitaçom.
Eu que moro na Galiza, um país com umha cultura e umha língua que luita por sobreviver, também gosto de habitar num planeta no que poder atopar umha pluralidade de paisagens, de cores, de ecossistemas vivos onde a fauna e a_natureza floreza, um planeta onde umha grande diversidade de povos e culturas fagam que poidamos escuitar, degustar, cheirar e olhar um_mundo em tecnicolor, como se dizia quando chegou a cor ao cinema. Nom gosto dum mundo plano, cincento, monocor, onde só haja umha língua, umha cultura dominante que asovalha às outras, um mundo onde um escuite, para pôr um exemplo, a Lady Gaga em Vigo, Nova Iorque, Katmandu ou Nairobi, e se silenciem outros sons fermosos que expressam  os sentires das gentes desses lugares que fam parte desse mosaico , desse grade arco da velha que foi e deve seguir a ser o_nosso planeta.


Alfonso Díaz [Foni]. (Galiza)
Afeccionado à fotografia e às viagens.
(Publicado em Elipse 4)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

As quatro estações

A primavera

Chegou a Primavera e ledamente
pássaros a saúdam c´o seu canto,
Sob o Céfiro as fontes docemente
com borborinho correm entretanto:
Vão cobrindo o ar com negro manto
anúncios de trono e relustre ardente
ora, depois o pássaro silente
torna de novo ao seu canoro encanto.
E assim, sobre o florido ameno prado
ao querido murmúrio da arvoreda
dorme o cabreiro c´o seu cão ao lado.
Ao som da pastoral sanfonha leda
dançam ninfa e pastor sob teito amado
pois chegou a primavera desta queda.

O verão

Sob a dura estação que o sol acende
esvaece o homem, a grei e arde o pinho;
Solta o cuco a voz e sei que atende,
canta a rola e canta o xilgarinho
Doce sopra o Zéfiro, mas contende
Bóreas aginha c´o seu vizinho;
Chora o pastor porque medoso atende
o trovão e seu fado, mas que está estinho;
Repouso rouba aos membros das canseiras
o medo do relampo e trovoada
e as furiosas moscas da mosqueiras.
São as suspeitas certo verdadeiras,
troa e fulmina o céu e a pedrada
troncha as espigas de trigo altaneiras.

O outono

Celebra o lavrador com baile e cantos
da feliz colheita o contentamento
e acesos de licor de Baco, tantos
no sono findam seu divertimento.
Faz deixar a cada um o baile e cantos
o ar, que tépido dá contentamento,
e a estação que está invitando a tantos
de um doce sono ao divertimento.
À alva o caçador marcha de caça
com cornos, espingarda e cães de raça.
Foge a fera mas, seguem-lhe a pegada;
Aterrada e cansa pola algueirada
de espingardas e cães, ainda ameaça
sem forças já, mas morre asovalhada.

O inverno

Geado aterecer trás neve algente
ao severo morrer de hórrido vento,
correr batendo os pés todo o momento;
por sobejo gelo bater o dente;
Passar ao lume o dia quedo e contente
enquanto a chuva fora molha a cento;
Caminhar polo laço a passo lento
por temor de cair ir continente;
Andar firme, escorrer e baquear,
de novo sobre o laço ir recear
deixando ao andar cristais quebrados;
Sentir silvar pola ferrada porta
Sirocos, Bóreas, ventos alçados.
Isto é o inverno, que ledice aporta.


Tradução de J. André López Gonçâlez
(Publicado em Elipse 4)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Poema horizontal


Ro Palomera. (Galiza)Ganhadora do IV Concurso Literário «Rosa de cem folhas» organizado pelo Colégio Oficial de Psicología de Galiza, 2011.
(Publicado em Elipse 4)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Queimados

  



Alexandre Insua Moreira. (Galiza)
Foi colaborador na edição das revistas Panta Rei, Sirxe, e Cen Corvos de Xallas e coordenador editorial da revista Máis que palabras. Pertence á_Junta Diretiva da Asociación Cultural O Castro de_Vigo. Livros coletivos: 18 - Unha antoloxía de poesia galega-portuguesa (2012), Doces Loucuras - Louvor aos sorrisos. Colectânea Poética (2013), Meis_é_poesía (2013), Alén do silencio (2014) e Migrantes - 29º Festival de Poesía do Condado (2015). Está Licenciado em Filologia Galega e em Filología Hispânica, e especializado em Linguística Geral pela Universidade de Vigo. Blog pessoal:  Impostura de fumador.:
http://imposturadefumador.blogspot.com.es/
(Publicado em Elipse 4)

domingo, 28 de agosto de 2016

a superfície da mesa como uma

minúscula cosmogonia: a chávena
de café e a garrafa das águas.
se olharmos com atenção vemos
também vestígios: marcas de copos,
resquícios de outras conversas,
a definitiva teoria sobre o belo. que
desencanto! fecho o caderno
vou para a porta, puxo
do cigarro mas é outro artificio
literário: um cigarro pensativo.

*

se a tua mão falasse
não seria mão mas boca.
uma boca com dedos, memória
a leveza do amor. uma boca
que dá a mão, dá a luz
que se une a outra mão.
(duas mãos que inauguram
um olhar sobre a terra).
se a tua mão fosse livro
não seria mão mas início
de história, a nossa história.
a tua mão é tudo isto:
boca, amor, olhar, o sustento
da nossa história. a tua mão
é também beijo, vento
alegria, o próprio mundo
quando não estou na tua mão.


Rui Tinoco (Portugal)
Psicólogo, vive no Porto. Tem publicados dois livros de poesia: O Segundo Aceno (Edições em Pé, 2011) e Era Uma Vez o Branco (Volta d'Mar Edições, 2013). Participou em diversas revistas literárias. Mantém o blogue Ladrão de Torradas: http://ladraodetorradas.wordpress.com/

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Poema grande...


Sei de um poema.

Anda por aí

Nesta página perdido,

E ninguém o vê.
Estas letras vão cobri-lo
E ele (des)aparecerá
Porque, as letras,
Mostram os estilos que cobrem...
É um poema grande,
Grande até ao fim do caderno
Sem letras, sem nada,
Simplesmente um poema
GRANDE...
Estas letras falam dele...

10 de abril de 1987

Mário Adão Magalhães
«Sou filho de Joaquim Ribeiro de Magalhães e de Conceição Mendes, nasceu em Margaride, Felgueiras a 4 de maio de 1965.
Comecei a escrever poesia aos 12 anos e sou jornalista profissional.
Tenho coincidências com Miguel Torga, com quem tive correspondência postal e por ele fui recebido».

(Publicado em Elipse 4)

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Haikus Contados

I

Os países que morrem
não agradecem
serviços emprestados.

II

Só por ver teu adentro
derreteria
lume de neve negro

III

Queimamos lenha líquida
com ossos de língua,
e a morte é feliz

IV

Galiza, verde impais
que voa nas nuvens.
Cai a chuva e não molha.

V

Peitos de mulher fria
que esta montanha
torna em fumo sem calor.

VI

Vazia é a consciência
só quando eu olho
frente a frente aos teus olhos.

VII

Neve nas janelas que
fecham o interior.
Não abrem desde fora.

VIII

Anjos e demos lutam
dentro do peito.
Eu só aguardo vê-los.

IX

Tu, verdugo inocente
das alvoradas.
Sangue mole e corrupto.

X

Estrelinha da manhã,
essa que vela
com fios de cordura.

XI

Galiza: Somos luz na nevoa
no negro inferno
das borboletas ruins.

XII

São sete assinaturas.
Calor humano
no meu cérebro mortal

XIII

O Novelo de noite
húmida.
E fecha a trovoada.

XIV

Sou o miradouro seco
do teu coração.
Lentamente apaga o sol.

XV

São claros os teus olhos
como as candeias
que me atam ao vento

XVI

Sei que és um abismo
negro, sem fundo,
mas é que eu sei voar.

XVII

Eu não sei dizer que não
na noite clara,
quando vates as asas.

XVIII

Foram sete as noites
nas que te pintei.
A cor perdura firme.

XIX

Por ti me fiz silêncio
na tua ausência.
Mas as lágrimas falam.

XX

Em mim pousache firme
as asas brancas.
Mas chegou o destino

XXI

Quando li o teu livro
de amor perfeito,
tiraram-me o coração.

XXII

Li o teu livro de amor
perfeito e limpo.
Gromo na carvalheira.

XXIII

Dormirei no teu peito
de branco algodão,
quando sonhe com voltar.

XIV

Perfume e orvalheira
após a chuva.
Nunca houve sequidão.

XXV

És um caminho longo
de coios duros.
Mas vejo o horizonte.

XXVI

Nunca tive o teu ser
que transparece.
Eras fume fantasmal.

XXVII

Uma palavra tua
foi suficiente.
E o riso já nasceu.

XVIII

O silêncio instalou-se
em mim de manhã.
E durou toda a vida.

José Manuel Barbosa Álvares (Galiza)
Professor de Educação Física. Fez também estudos de História na UNED. Sócio da AGAL, ex-membro do Conselho Consultivo do Movimento Internancional Lusófono, faz parte do Clube
d@s Poetas Viv@s. Ex-diretor administrativo do Instituto Galego de Estudos Célticos. Académico de Número da Academia Galega da Língua Portuguesa. Tem publicado artigos na jornal La Region, na_revista Agália, no Portal Galego da Língua e em MundoGaliza.com. Publicou o Curso Prático de Galego (AGAL, 1999), Âmago/Mâgoa (Baia, 2002 - Em parcería com Roi Brâs), Bandeiras de_Galiza (AGAL, 2006) e Atlas histórico da Galiza (Edições de Galiza, 2008). É editor do blog Desperta do teu sono: http://despertadoteusono.blogspot.com.
(Publicado em Elipse 4)

domingo, 17 de julho de 2016

Vídeo promocional de Elipse n.º 9

Participam da Galiza, Portugal, Brasil e Moçambique:

Marília Miranda Lopes, Henrique Dacosta, Augusto Fontám, Ana Souto, Fabio da Silva Barbosa, Manuel Blanco, Sabela Carballo, Estevão Chisano, Adela Figueroa, Alberte Corral, Nesto Fernández, Clarisse da Costa, Rui Tinoco, Andréa de Nascimento, Iria Beltrán, Carmen Pereira, Narciso Balói, Leonardo Flores e Alfonso Díaz (Foni).

terça-feira, 5 de julho de 2016

Mensagem primeira da sereia

Há a vida. Há a morte. Há o mar. Pelo desejo da outra vida do mar encontraram os homens a ilha. Vinha o_desejo navegando desde o nascer do sol até aos confins da terra, e com eles os ecos dos búzios e o bruar das ondas. Por amor aos irmãos ergueram os homens um farol na ilha. E já não foi mais o Atlântico o mar escuro. Porque é o mar luz no fundo da terra que nos prende e é o coração do homem mar que todas as terras liberta. E pelo mar compreenderam o_mundo e descobriram os longes e inventaram novas ilhas e ouviram sereias e começaram os cantos e este fio dos contos que a todos nos liga e nos irmana.


E nunca sobre eles teve a morte poder.

Maria Dovigo (Galiza)
Galega nascida na Corunha. Mora em Lisboa.

(Publicado em Elipse 4)

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Super Flumina Babylonis

Cristianismo e neoplatonismo num conto de Jorge de Sena

Jorge Cândido de Sena (1919-1978), camonista luso-brasileiro, empenhou anos de sua vida aos estudos da produção poética de Luís Vaz de Camões (1524-1580), a quem consagrou alguns escritos não só de crítica, mas de criação literária. Uma dessas composições foi o_conto «Super Flumina Babylonis», dado a lume, pela vez primeira, no livro Novas andanças do_demônio (1966), havendo sido republicado em Camões dirige-se aos seus contemporâneos e outros textos (1973). Nesse conto, há traços de Neoplatonismo, que influenciou composições poéticas de Luís de Camões, o qual, como personagem protagonística do precitado conto, nele é apresentado qual alguém alquebrado e alijado do direito de continuar ladeando a Poesia. 
A estória «Super Flumina Babylonis», centralmente, «[...] toma por base a biografia de Pedro de Mariz, impressa na edição de Os Lusíadas comentados pelo padre Manuel Correia em 1613 [...]» (Neves, 2011, p. 901). É nesse conto que irrompe, «[...] ficcionalmente, um Camões doente e alquebrado, abandonado por todos e pela poesia no momento de compor a paráfrase do Salmo 136 [...], paráfrase essa que lhe havia sido encomendada e que o poeta transforma no seu "testamento poético”» (op. cit., idem, ibidem). Sobre Jorge de Sena, diz-se que suas histórias são «[...] narrativas nas quais se compaginam o dado imaginário, eruditivo e observado, num amálgama alegórico, que [...] se cristaliza num realismo mágico ou poético» (Moisés, 1975, p. 29), o que observamos na_diégese do «Super Flumina Babylonis», sobre cujo protagonista, Luís de Camões, não se vê demérito algum em, ainda hodiernamente, enxergá-lo qual um dos representantes-mores do homo universalis, «[...] tipo modélico que o_Renascimento fixou [...], figura ideal do homem no seu tempo [...]» (Spina, 2010, p. 40), em que Camões viveu. Demais, do «Super Flumina Babylonis», o_motivo, «[...] elemento linguístico que recorre com insistência na obra de um escritor [...]» (Weber apud Moisés, 2004, p. 310) não nasce, exclusivamente, do Cristianismo, mas também do Neoplatonismo, redivivo na Theologia Platonica, de Marsílio Ficino (1433-1499), filósofo neoplatônico humanista, em cujo predito livro veem-se caracteres anímicos encontrados por Platão de Atenas (ca. 428-347 a.C.) no diálogo Fédon, que explana a psicagogía, a qual explica o destino que as almas recebem post mortem, conceito que introduz o texto ficiniano com os dizeres si animus non esset immortalis, nullum animal esset infelicius homine, — se a_alma não fosse imortal, nenhum animal seria mais infeliz do que o homem» — (Ficino, 1965, p. 76), do que, direta ou indiretamente, parece haver-se servido Jorge de Sena quando erigiu seu «Super Flumina Babylonis».
Um dos recursos mais usados na literatura contemporânea é a intertextualidade, que abarca «[...] uma noção poética, e a análise está aí mais estreitamente limitada à retomada de enunciados literários (por meio de citação, alusão, desvio etc.) [...]» (Samoyault, 2008, p. 13), compreensão sem a_qual é impossível auferir, por anagnórise, o_conhecimento onomástico da personagem sobre quem incide o «Super Flumina Babylonis», já que, em nenhum momento, se apresenta o nome de Luís de Camões nessa tessitura, o que, por conseguinte, somente permite ao leitor razoavelmente familiarizado com a produção camoniana a noção de que tais prosaicos escritos têm o maior poeta quinhentista lusitano como protagonista. Por tal, conhecer elementos intertextuais é de inegável importância naquele texto, para que se comente, analise e interprete essa prosa de ficção por meio de uma associação que a ponha no patamar filosófico-teológico alusivo ao Neoplatonismo e ao Cristianismo.
No «Super Flumina Babylonis», existe um trecho em que, quase imperceptivelmente, ocorre uma intertextualidade stricto sensu, em que, imersa na narrativa do solilóquio de Luís de Camões, aparece, de súbito, a sentença «Erros meus, má fortuna, amor ardente, em minha perdição se conjuraram, os erros e a fortuna sobejaram, que, para mim, bastava Amor somente», a qual, portanto, configura-se como diálogo intertextual por citação, «[...] retomada explícita de fragmento de texto no corpo doutro texto [...]», o que, na literatura contemporânea, apresenta «[...] modo novo de citar sem os usos de marcações explícitas, prática que já vem se tornando comum. A percepção da cultura como mosaico permite criação de textos de natureza citacional» (Paulino et al., 1995, p. 28). Noutro passo, novamente se faz diálogo intertextual desprovido de sinais tipográficos citacionais, visto nas últimas linhas do conto: «[...] Sobre os rios que vão por Babilônia me achei onde sentado chorei as lembranças de Sião e quanto nela passei...», do que se percebe, com bastante clareza, a origem dessa passagem, que foi, ipsis litteris, transcrita do poema «Sôbolos rios que vão», mais especificamente, da inicial quintilha heptassilábica de que se compõem esses camonianos. Nesse ponto, observa-se a intencionalidade do narrador do conto e Sena, isto é, possibilitar que tanto a vida quanto a obra de Luís de Camões sejam postas, à guisa de «manuscrito autógrafo», ou mesmo de «legado poético-teológico», em um documento que queira, embora ficcionalmente, fazer-se sentir, autenticamente, feito pela pena de Camões.
O título «Super Flumina Babylonis» demonstra intertextualidade citacional, mas, nesse caso, tirada da primeira versão latina da Bíblia Sagrada, a_Vulgata Editio, vertida por Eusébio Sofrônio Jerônimo (347-420). É graças ao “Salmo 136”, posto nesse compêndio, que Jorge de Sena chamou seu conto de «Super Flumina Babylonis», porque, ipsis verbis, é o sintagma que abre aquele salmo: Super flumina Babylonis illic sedimus et flevimus, cum recordaremur Sion (Biblia Vulgata Latina, 1999, p._352), que, na língua portuguesa, lê-se: «Junto aos rios de Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando-nos de Sião» (Bíblia Sagrada, 2008, p._773). Isso explica por que Jorge de Sena denominou seu texto com a frase em língua latina. Fê-lo também porque sabia aonde chegaria o_deslinde do padecimento sentido e suplantado pela personagem Luís de Camões. Nem é descabida a escolha do nome «Babilônia», pois esse termo toponímico, mesmo extraído do contexto histórico judaico da Bíblia Sagrada, mercê do «Salmo 136», apresenta significado metafórico que transcende o parco valor da semântica toponímica na qual se assenta aquele termo, o qual é figurativizado, então, qual um «[...] lugar de perdição» (Sena apud Fernandes, 1980, p. 113), de_onde as almas devem-se distanciar, porque, caso não o façam, serão mortas pela «[...] grande Babilônia, mãe das prostituições e abominações da terra» (Bíblia Sagrada, op. cit., p. 361), em que o_aposto descreve todos os perigos de que quaisquer almas precisam manter-se apartadas, com o fito de jamais perecerem.
Tornando-se à questão dialógica do «Super Flumina Babylonis», ela é pouco explorada materialmente, ou seja, mediada por efetiva manifestação oral de interlocutores, numa natural conversação, na medida em que esta «[...] é a_primeira das formas de linguagem a que estamos expostos, e a única da qual não abdicamos pela vida afora» (Marcuschi, 2003, p. 14), pois «[...] é gênero básico da interação humana» (op. cit., idem ibidem). Porém, levantando-se contra essa naturalidade conversacional, Camões deixa que sua progenitora teça copioso monólogo, ignorando-se-lhe as essências de tudo que ela se esforçava por incutir na mente do melancólico «barão assinalado», cujo sinal — se ainda havia algum — equiparar-se-ia ao recebido por Caim, em que se sentiria indizível fardo nascido do «desconcerto do mundo», de que, conscientemente, o arruinado Camões se via culpado. Mas isso não bastava para dissuadir sua mãe da missão de que se autoincumbira. Ao contrário, ela procedeu à maneira de outra genitora cujo filho relutava em singrar rumo à fé dada por Jesus Cristo. Essa mãe se chamava Mônica. Seu rebento, Aurélio Agostinho, o_mesmo que, após três decênios de existência, rendeu-se espiritualmente, tendo-se convertido ao Cristianismo. Esse filósofo recém-cristianizado, nas suas Confissões, falou com Deus: «Mas vós, do alto, estendestes a mão e arrancastes minha alma dessa voragem tenebrosa, enquanto minha mãe, vossa serva fiel, junto de vós chorava por mim, mais que as outras mães choram sobre os cadáveres de filhos. Ela [...] via a morte da minha alma» (Agostinho, 1999, p. 94). Da mesma maneira, pois, que Agostinho teve seus olhos abertos às verdades divinais a partir das súplicas maternais, sucedeu outro tanto a Camões. Na narrativa sobre a hora do ocaso camoniano, porém, é aparente que o_protagonista achou-se arrebatado, «[...] impelido por uma ânsia que lhe cortava a respiração, tontura que multiplicava a pequenina luz da candeia» (Sena, 1982, p. 226), sendo esse o aguardado momento epifânico, que independeu da conversação em prol da elucubração.
Nas derradeiras linhas do «Super Flumina Babylonis», quando Camões principiou uma composição dos versos do «Sôbolos rios que vão», aqueles que se colocou a esboçar, «Sobre os rios que vão de Babilônia a Sião assentado me achei», se lhe déssemos um hemistíquio logo após o_substantivo «Babilônia», teríamos dois versos decassilábicos, a saber, «Sobre os rios que vão de Babilônia» e «a Sião assentado me achei», em que Camões estaria a pôr o estilo estrutural épico. Dada a reação dita pelo narrador do «Super Flumina Babylonis» sobre sua protagonística personagem, vê-se que «engenho e arte» nela não mais agem a serviço de cânticos beligerantes. Isso é ora pretérito. O neo-homem renascido «[...] começou a escrever... Sobre os rios que vão da Babilônia a Sião assentado me achei. Riscou desesperado. Recomeçou. Sobre os rios que vão por Babilônia me achei onde sentado chorei as lembranças de Sião e quanto nela passei» (Sena, 1982, p. 227), prova cabal de que não mais esse poeta buscava falar de questiúnculas mundanais, mas de temas eternais. É nisso que repousa o Neoplatonismo cristianizado presente nesse conto através da persona camoniana, na qual se nota um movimento rumo ao contemptus mundi («desprezo do mundo»), «[...] conflitos de tempo e eternidade, multiplicidade e unidade, exterioridade e interioridade, vacuidade e verdade, terra e céu, corpo e alma, prazer e virtude, carne e espírito [...]», já que «[...] o mundo é vão porque é_passageiro» (Delumeau, 2003, p. 25). Estaria em Camões, nesse instante, a alma sobrepujando o_corpo, preparando-se para tornar quer ao platônico «mundo das Ideias», quer ao cristão Reino dos Céus. Em suma, as vicissitudes sofridas lograram êxito quando da tópica da «recusa da epopeia», em cujas características não mais convinha que aquele poeta se baseasse para alcançar patamares correlativos aos cantares líricos, nos quais somente elementos anímicos estão contidos. Porquanto «[...] o tema do orador cristão é sempre a revelação cristã, [...] os temas cristãos devem ser tratados em um estilo médio ou baixo [...]» (Auerbach, 2007, p. 38-39). Também «[...] a partir do significado de grau ou nível inferior, humilis tornou-se uma das designações mais usuais a estilo baixo: sermo humilis» (op. cit., p. 44), do que advém uma transição do Camões de Jorge de Sena da mera existência à vida em abundância.


Referencia bibliográficas

  • Agostinho. «Livro III». Em: Confissões. Tradução de Oliveira Santos; Ambrósio de Pina. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 77-96.
  • Auerbach, Erich. «Sermo humilis». Em: Ensaios de literatura ocidental: filologia e crítica. Tradução de Samuel Titan Júnior; José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2007, p. 29-76.
  • Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Geográfica, 2008, 1837 p.
  • Biblia Vulgata Latina: Biblia sacra iuxta vulgatam clementinam. Organización de Alberto Colunga; Laurentio Turrado. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1999, 1296 p.
  • Delumeau, Jean. «O desprezo do mundo e do homem». Em: O_pecado e o medo: a culpabilização no Ocidente (Séculos XIII-XVIII). Tradução de Álvaro Lorencini. Bauru, SP: edusc, 2003, p. 19-67.
  • Fernandes, Maria Lúcia Outeiro. «A transfiguração da vida em poesia e a metamorfose do homem: o Camões de Jorge de Sena». Em: Pires, Antônio Donizeti (Orgs.). Matéria de poesia: crítica e criação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, p. 67-86.
  • Ficino, Marsilio. «Libro I, capitolo I». Em: Teologia Platonica. A_cura di Michele Schiavone. Bologna: Zanichelli, 1965, vol. I, p. 76-79.
  • Marcuschi, Luiz Antônio. «Características organizacionais da conversação». Em: Análise da conversação. São Paulo: Ática, 2003, p. 14-16.
  • Moisés, Massaud. (Org.). «O conto na literatura portuguesa». Em: O conto português. São Paulo: Cultrix, 1975, p. 11-30.
  • Neves, Margarida Braga. «Jorge de Sena (camonista)». In: Silva, Vítor Manuel Pires Aguiar e (Coord.). Dicionário de Luís de Camões. São Paulo: Leya, 2011, p. 898-902.
  • Paulino, Graça et al. Intertextualidades: teoria e prática. Belo Horizonte, MG: Lê, 1995, 155 p.
  • Samoyault, Tiphaine. A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 2008, 160 p.
  • Sena, Jorge de. «Super Flumina Babylonis. Em: Neves, João Alves». Contistas portugueses modernos. São Paulo: Difel, 1982, p. 215-227.
  • Spina, Segismundo. «O maneirismo». Em: Ensaios de crítica literária. São Paulo: edusp, 2010, p. 39-65.

Adriano Tarra Betassa Tovani Cardeal (Brasil)
Bacharelado em Letras na Universidade de São Paulo (USP). Licenciatura em Letras na Universidade Estadual Paulista (UNESP), onde também é Pesquisador de Estudos Literários e Monitor de Literatura Portuguesa. Professor de Língua e Literatura Portuguesa. Poeta lírico. Artigos publicados: «Ut Theologia Poesis: Confluências Poético-Religiosas entre Luís de Camões e Ruy Belo»; «Da Praesentia Tristitiae à Praesentia Insanitatis: Diálogos Temáticos entre Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa».
(Publicado em Elipse 4)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Poema inacabado

Poema inacabado


no comboio da noite viajo
sem saber cara a onde vai,
os pensamentos voam nos carris e no som
dum trem que sabe a nostalgia.
O ferro carril do passado ainda viaja por terras
desconhecidas e senlheiras
com uma cor que sabe a fume,
é o ar envolvente da realidade
que o sustém na geometria.
No comboio, viajo
e não viajo...
as horas solidificam-se
como magma seco
e expressam silêncio e tempo
num canto estranho e esquisito
o canto do pôr-do-sol no vigésimo estrondo
É  no comboio da noite e sem estrelas
onde ouço a voz da lua
no trigésimo nono ano de luz
que me abrange com a amplitude dum sorriso.
No comboio viajo, talvez, não viajo.
 rosanegra (Galiza)
 Blog pessoal: Sete Bolboretas verdes.
http://setebolboretasverdes.blogspot.com.es/
(Publicado em Elipse 4)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Gráfica




Cruz Martínez Vilas (Galiza)
Fundadora de Penúltimo Acto (Acción Poética). Organizadora do ato Círculo Poético Aberto no Café Uf (Vigo). Pertence á Junta Diretiva da Asociación Cultural O Castro de Vigo. Publicou os livros Espelho de mim mesma (Círculo Edições, 2014) e Xerografia em branco e negro (Corpos Editora/Poesia Fã Clube, 2014).
Ganhou, entre outros, o primeiro premio no XXII Certame de Poesía en Lingua Galega Rosalía de Castro, com o poemário Amante tocada pola antropofaxia em 2008, o XXVI Poesía en Lingua Galega Rosalía de Castro, com o poemário Contemplo o proceso inevitábel da despedida em 2012 e o II Certame de Poesía em Língua Galega Manuel María com o poemário O lánguido ocaso dunha dalia. Blog pessoal: No ollar dun bufo verde.
http://noollardunbufoverde.blogspot.com.es/
(Publicado em Elipse 4) 

domingo, 12 de junho de 2016

Sonho Manifesto

Sonho Manifesto


Descim os degraus um a um em silêncio,  muito devagar. Nom escuitava mais do que o ruido do crepitar das madeiras sob meus pés como das faíscas que ressaltam do lume numha noite de inverno como a desse dia. Todo estava às escuras e a única luz a iluminar o espaço em que eu caminhava era o fulgor da lua cheia a peneirar pola janela do corredor do primeiro andar. Tinha um medo aterrador, mas agora que acabava de sair do quarto muito assustada já nom podia regressar. Tinha de saber que fora esse ruido atronador que percebera pouco antes e do que acordara de jeito sobressaltado. Ia_espreitando cautelosamente à medida que descia. Nom levava nada para me proteger de qualquer um assaltante que pudera entrar na minha morada. De súpeto  alguém acendeu as_luces e quatro encarapuchados armados com fuzís mandarom-me erguer os braços e ordenarom para me deitar no chao. «No haga usted nada, tírese en el suelo somos la policía y ya sabe porque estamos aquí. Vamos a registrar su casa,  creemos que tiene usted aquí propaganda subversiva, en la que denigra, maltrata e incluso insulta a España. Nos llevaremos e incluso destruiremos cualquier libro, libelo, panfleto o_documento que no esté escrito en la lengua de nuestra gran nación o aquellos textos en los que exista cualquier expresión insultante y denigrante para la unidad de España. Viva_España!». Sempre finalizavam assim e com a_saudaçom fascista. A_mesma que já utilizaram durante mais de 40 anos na Ditadura do Terrorismo Franquista.
Todas e todos tinhamos conhecimento que desde o golpe de Estado do 14 de marçal de 2018 em que se re-instaurou umha Fascistocrácia, nom é que antes dessa data nom existira já o fascismo, pois já vinha de tempos atrás, estava instalado por doquier e muito encorajado desde o início da crise. Acrescentaram-se a cada vez mais as restriçons das liberdades  e estabelecimento dum sistema de_relaçons sociais de poder muito próximas às da Idade Media, relaçons de servidume. Ainda que o_novo servo nom era o camponês, senom um trabalhador assalariado. Umha servidume estipulada para a classe trabalhadora do século XXI.
A  polícia tinha ordem de entrar nas moradas nomeadamente daquelas pessoas ou grupos distinguidas/os na defensa da Galiza, da nossa cultura, da nossa lingua e, assim mesmo,  de reclamarem nossa soberania e independência.
Era muito difícil falar galego em público e nem tam sequer na intimidade entre família ou amizades. Era preciso olhar de esguelha e com muita precauçom por se qualquer delator andava a espreitar nos lugares mais insospeitados, já que podias ser delatado e detida/o. Agora já nom se gravavam tam só imagens nos prédios e centros públicos, senom também qualquer conversa mesmo aquelas mais vanais. Todas as semanas analisavam seu conteúdo para  comprovar que nom existira qualquer indício de delito ou o que eles denominavam «vandalismo». Todas eram gravadas e em todos os centros públicos um cartaz na entrada ordenava falar de jeito correto, quer dizer, em espanhol sob pena de sançom e mesmo cadeia, tendo em conta o tipo de comentário.
Foram criadas brigadas de limpeza  de «vándalos». O vandalismo compreendia multidom de aspetos, desde umha pintada, um cartaz, umha faixa, mesmo ler um livro em galego no autocarro... Já nem sequer era possível realizar qualquer umha concentraçom ou manifestaçom pois fôram proibidas desde a reinstauraçom da fascistocrácia, onde também fora derogado o direito à greve. As_mendigas e mendigos forom tirados das ruas e levados a centros de internamento onde tinham na obriga de trabalhar por  umha comida diária, ainda que se trabalhavas bem e sem qualquer protesto às vezes premiavam-te  com duas. Mas eram trabalhos que ninguém queria fazer, os mais duros e perigosos e quase sempre sem qualquer um tipo de proteçom. Muitos morriam sem sabermos nada deles. Se fazias qualquer questom podias acabar lá mesmo, coma eles.
Existiam ainda alguns sindicatos, sim, mas apenas aqueles favoráveis ao sistema de governo estabelecido, com certeza, sindicatos amarelos e verticais. Alguns destes conhecidos por todas e todos já desdeo início da reinstauraçom monárquieca do ano 1975 do século XX. Nom estava permitido reivindicar sequer os direitos mais básicos e a dignidade das pessoas que estavam a ser de jeito flagrante vulnerados. A Uniom Europeia com Alemanha à cabeça utilizava a Italia, Portugal, Grecia e Espanha como cabeças de turco e continuava a impor a política de servidume a_desenvolver por cada um deles.
Serventes do sistema político, social e económico supeditado à Uniom  Europeia, e ao neo-liberalismo e neo-liberal-terrorismo mundial como mao de obra barata e quase esclava que deviam de servir aos poderosos capitalistas. A UE também começou a se fascistizar, mas no fundo nom éramos mais do que um campo de provas, um observatório onde desenvolver umha fonda análise do reagir da classe trabalhadora perante as políticas esmagadoras dos poderes dominantes.
Um duplo submetimento, dumha parte ao poder político da Fascistocrácia espanhola com a imposiçom e proibiçom da reivindicaçom da nossa naçom, nem sequer a reclamaçom da existência do nosso povo, e da defensa da nossa cultura e da_nossa lingua. Doutra parte submetimento às políticas comunitárias que impediam o nosso desenvolvimento à margem dos ditados prejudiciais na construçom dum futuro próprio em liberdade onde a dignidade e direitos fundamentais do ser humano e do ser social fossem piares em que se substente um novo sistema político, social e económico. Sem qualquer um tipo de submissons, nem supeditaçons, sem obtusas dependências a qualquer pais ou Estado, ou a qualquer grupo dominante, fora do lastro de qualquer servidume.
A nova servidume do Século XXI encarregava-se de decidir por ti. Eras semelhante ao camponês do século XII que tinha de realizar aquelas tarefas assinaladas e impostas polos poderosos capitalistas. Como já dixem os sindicatos nom eram mais do que grupos de poder ao serviço dos empresários e grupos empresariais, com o que os operários nom tinham nada a fazer. O trabalho podia ultrapassar as 10 ou 12 horas e os acidentes acrescentavam-se, ainda que isto nom era de grande interesse para os poderosos canalhas terroristas. Os acidentes mortais eram tratados muitas vezes como fortuitos e substituidos por mais um operário, sem ir na procura das causas para evitar mais um, embora isto já acontecia com anterioridade.
Com toda isto que venho de relatar, a situaçom era muito convulsa e os confrontos com a polícia sucediam-se dia após dia. A cada vez havia mais pessoas a sofrerem repressálias, quer através de multas elevadíssimas que nom podiam ser pagas, pessoas enjuiciadas e encadeadas, além de mortes em confrontos com a polícia. Como estou a relatar,  todas as manifestaçons foram  proibidas, mas a_realidade era muito dura para nom sair à rua  a protestarmos por umha realidade de todo cruenta.  Já nom  eram Vigo, Ferrol, Compostela, senom que em todos os povos, vilas, aldeias e comarcas  da Galiza havia confrontos quase a diário, mas também nas outras zonas do Estado.
Decidimos criar auto-organizaçons de autogestom popular para evitarmos que as pessoas repressaliadas, muitas delas deitadas fora do seu trabalho ficaram sem nada que oferecer-lhes às suas famílias. Com a criaçom de comedores populares de bairro, companheiras e companheiros podiam obter duas comidas ao dia, além de ser um_lugar onde poder  partilhar opinions, experiências, ajuda e colaboraçom mútua. Nestas auto-organizaçons de autogestom tentava-se abranger diversos aspetos. Desde formaçom cultural, formaçom de luita,  além de formaçom política para evitar distraçons e fragmentaçons que impediram ir  na procura dum objectivo comúm.
Este objectivo comúm era a mundança definitiva dum sistema político que se retrotraia  em muitos aspetos  até épocas passadas, mas muito afastadas no tempo,   mesmo até a Idade Media. Com umhas relaçons sociais de servidume que submetiam à classe trabalhadora respeito da burguesia que a sua vez continuava a sua dependência das burguesias de rango superior, quer dizer, o que se denominava Vasalagem na Idade Media, estipulada com exclusividade para as classes nobres. Estas burguesias prestavam colaboraçom e boa disposiçom aos burgueses mais poderosos e estes proprocionavam-lhes a sua vez proteçom e benestar económico e social.
Nom era possível permitirmos um retrocesso de liberdades tal, um retrocesso dos direitos mais básicos e fundamentais na dignidade dos seres humanos. Havia que dar começo à preparaçom das pessoas e dos grupos humanos e coletivos diversos para a tomada definitiva do poder. Com o alvo de atingir a mudança de vez desta sociedade opressora, dominadora e exploradora. A_consecuçom do socialismo, dumha justiça social para todos os seres humanos, e dirigida também a todas as sociedades. Pois quer a_diversidade social quer cultural som piares básicos para a construçom dumha novo amencer de equidade e justiça social para a imensa maioria trabalhadora de todas as naçons. Equidade que supom também a igualdade de todos os seres humanos sem discriminaçom por razom de sexo ou raça, já nom falo das religions, porque acho que todas elas existem como sistema de controlo social da populaçom e para dirigir aos grupos humanos na ideia da sua redençom através do sofrimento terrenal.
Toda esta época convulsa fora construida polos poderosos para o submetimento da populaçom aos seus ditados e assim extrair o melhor rendimento  possível falando em prata, quer dizer, falando em rendimentos económicos para os petos dos dominadores e, com certeza, acumulaçom de mais e mais riqueza nas maos da grande burguesia, enquanto os seus vasalos(pequena e mediana burguesia) colaboravam na obtençom dos seus lucros acatando as órdenes que vinham da cume da_pirámide até chegarmos à base desta, o povo fazedor, construtor e trabalhador.
Enquanto os servos, na Idade Media camponeses, agora trabalhadores assalariados, deviam baixar o lombo e sem qualquer protesto cumprir de jeito ótimo as órdenes que a mediana e pequena burguesia lhes impunha e que vinham da cume da pirámide da grande burguesia que por sua vez oferecia migalhinhas para os seus súbditos.
Como podemos conhecer  de todo o lido até cá,  a situaçom degradava-se dia após dia, a cada vez mais. Respeito da situaçom da mulher elaborarom-se leis contra o aborto, penado com cadeia e centros de reeducaçom para mulheres. A educaçom dos colégios era controlada de tal jeito pola Igrexa que as crianças eram afastadas por sexos, já que conforme o governo fascista existiam grandes diferenças nos rendimentos académicos entre homens e mulheres. Realizarom-se listagens de matérias e estudos universitários que deviam estudar mulheres e homens.
Como  podedes observar a situaçom era insostível. O retrocesso era enorme mesmo repeito dos últimos anos da ditadura do terror franquista. Mas as pessoas e coletivos envalentonarom-se e començarom a se auto-organizarem, e se auto-gestionarem.
Nos bairros começou a  procura de toda a colaboraçom possível para evitar que qualquer pessoa acabara por cair na exclussom social. Havia trabalho colaborativo para todas e todos. Qualquer que soubesse cocinhar,  de carpintaria, eletricidade, arranjar um ordenador, curar umha doença,  ajudar às pessoas idosas, prestar ajuda psicológica, etc tinha um espaço já que qualquer ajuda ou colaboraçom era bem recebida. Quer também em tarefas formativas abrangendo todos os âmbitos educativo, cultural, até o lúdico e desportivo, e sobretodo o social e político.
As pessoas, coletivos, grupos humanos e as diferentes naçons integradas à força na Fascistocrácia espanhola começavam a estar fartas dumha situaçom atafegante e esmagadora das_liberdades e precisavam de todos os recursos possíveis para mudar do jeito que for a situaçom em pro da maioria social, da classe trabalhadora.
A gente já estava a se preparar para umha revoluçom, ou para os inícios dumha revoluçom socialista. A formaçom permanente de quadros  políticos, culturais, educativos... estava cada vez mais avançada e sabíamos que existiam grupos bem formados e treinados  para derrocar pola força quer o governo galego quer o governo do Estado espanhol, do mesmo jeito que existia umha coordenaçom tal entre todas aquelas naçons do estado para o derrocamento de vez da Fascistocrácia
O estalido da Revoluçom tinha data e hora disposta e nesse intérvalo fum detida ainda que tivem sorte e fiquei livre bem pronto, porque jamais gardava informaçom segreda ou confidencial no computador, além de manter todo bem longe das maos dos ladrons da vida e dignidade, quer dizer, dos fascistas.  Nom possuiam qualquer prova para a_minha imputaçom.  Aliás, nom derom topado mais que livros em galego e  nada irreverentes com a Espanha. Ainda assim, por acuvilhar umha grande biblioteca de livros em galego fue sancionada e castigada a assistir a cursos de reeducaçom com o_alvo de abandonar definitivamente o selvagismo lingüístico e pra falar de jeito correto. Em espanhol, com certeza, mais todo isto era inútil. Se és alemám nom podes ser francés ainda que fagam cursos específicos para deixar de falar alemám, pois o_próprio tem de acontecer se es galego, terás de ser galego toda a vida e isto supóm assumir tua cultura, tua lingua e umha jeito de comportamento perante a vida que difire doutras culturas e naçons.
Chegou porfim a data do início do estalido revolucionário. Todo estava disposto desde havia tempo, todo estava bem estudado e preparado para o combate, ou combates. Combates que fôrom muito duros e em que que se perderom vidas humanas além de muitos feridos, destroços em prédios, em estradas, em mobiliário diverso. Porém, graças a auto-gestom prévia nom faltarom alimentos nem medicinas para a populaçom e menos ainda para as e os combatentes.
Nom há que esquecer que a UE permaneceu sempre do lado dos fascistas, já que convergiam no elemento comúm da defensa do neoliberalismo. Mas enseguida percebeu que volviam os tempos do terrorismo franquista mais cruentos e decantou-se por olhar de esguelha e deixar mesmo passar  algumha colaboraçom em pro dos Revolucionários. Acho que acreditavam na nossa volta ao cauce do sistema económico capitalista após recuperarmos algumhas liberdades  e direitos perdidos, mas nom foi assim.
Graças a indolência da UE e de grupos e paises partidários da luita que cá desenvolvíamos, a_Revoluçom deu trunfado antes do esperado, num espaço de tempo de pouco mais dum ano.
Uniom Europeia  tentava tornar-nos ao cauce estabelecido com anterioridade cedendo mais direitos e mais soberania e capacidade decisória para o Estado espanhol. Mas todo mudara dabondo como para retornar aos tempos passados. O que antes eram autonomias nesse Estado espanhol, agora eram naçons independentes e com capacidade decisória e  sem qualquer dúvida dos princípios que acordaram atingir desde o primeiro momento. Afastamo-nos  dumha Uniom  Europeia que apenas era a Europa dos mercaderes, da grande burguesia e da burguesia colaboradora para encher os seus petos, acumular mais e mais riqueças a custa do lombo da classe trabalhadora. Esse tempo já finalizara de vez, nom podia voltar de novo.
Uniom Europeia tivo assim que pagar um preço  muito elevado por ajudar quer aos fascistas, quer pola inoperância face os Revolucionários, que decidiram antes do começo da Revoluçom qual seria o alvo a atingir e caminhavam face ele sem qualquer dúvida. Nom havia volta atrás teriam de ser naçons livres dentro da Europa, porque nesse continente moravam, até algúm movimento de placas tectónicas que lhes  obrigara a afastarem-se dele. Mas nom desejavam já voltar a fazer parte dumha Uniom Europeia que domina, oprime e explora à classe trabalhadora.
Mais outros paises também tomarom a iniciativa, entre eles, Portugal e a Grécia...Mas começarom a se pôr feias as cousas porque a OTAN decidiu intervir, justificando a falta de liberdades, quando foi  graças o trunfo da Revoluçom quando começamos a viver em liberdade.
Polo momento continuamos pola senda do socialismo na procura da justiça social para a imensa maioria do povo, quer dizer, para o povo trabalhador. A equidade, a igualdade de direitos para todas as pessoas, sem qualquer umha discriminaçom por razom de sexo, ou raça, eliminando qualquer diferença por razom de classe. Porque no socialismo tenhem de ser eliminadas de vez as classes sociais. A defensa da nossa cultura, da nossa lingua, em definitiva da nossa naçom é um dos piares na mudança definitiva dum sistema de tutelagem a outro de independência e maioridade do povo.
É agora quando podemos dar começo à construçom dum caminho extenso e nom exento de obstáculos, mas com a certeza de sermos nós própias a decidirmos nosso futuro, nosso destino. Acumulando a cada vez mais forças para se impor a razom da inteligência natural criadora face a_inteligência contra natura que até o de agora dominava.
Só aguardo que este trunfo for definitivo e seguido por outros povos para que a uniom de todas as forças e de todas as naçons impeda o_retrocesso e a volta ao sistema criminal e canalha quer do fascismo quer do terrorismo capitalista, duas caras da mesma moeda.
A primeira luz do amencer lançou umha lumieira sobre as minhas pálpebras que fixo acordar do sono e do maravilhoso sonho em que me sumergira nessa noite do trunfo inicial da Revoluçom socialista.
Oxalá deitemos fora de vez a fascistocrácia destrutora de qualquer humanidade.

Viva a Revoluçom!
Viva Galiza independente, socialista e feminista!
Luitemos todas contra o terror fascista e capitalista!

 Belem Grandal (Galiza)
«É na Euskal Herria que eu moro por um amor que vai madurecendo dia após dia e abre e fecha suas pétalas, para mostrar com o passar do tempo multidom de cores,  brilhos e aromas a cada amencer.  Mas outro ficou longe, a latejar no mais fundo do meu coraçom. Amor embalado polo  rimo da corrente que o Minho leva devagar na sua profundeza e do que nascem e medram cada dia sons e palavras enchidas de vida que esparegem os ventos luso-galaicos, ventos húmidos e cálidos que empapam e nutrem a pele e peneiram até as entranhas para erguer a dignidade dos povos irmans. Falo do amor a Galiza, minha Mátria, minha Pátria.
Comecei a minha pequena obra literária, até o momento,  com o intuito de expressar toda a dor e sofrimento que causam as vivências dumha injusta e esmagadora realidade imposta polos poderosos. Aquelas e aqueles que decidem por nós, organizam as nossas vidas, manejam as consciências, jogam com os nossos sentimentos, roubam as nossas ilusons tornando-nos em seus monicreques, além de encherem suas bocas para falarem de democrácia, vaziando as palavras de conteúdo ou desvirtuando-o quer manipulando-o ao seu antolho.
Explodiu em mim a raiva, a dor e sofrimento. A enchenta foi muito grande polo que precisei do verso para encaminhar as ânsias e as ilusons dum presente e um futuro mais lúcido e esperançador. É cá que ainda continuo por estas corredoiras intrincadas que é preciso desentranhar para atopar o caminho ajeitado onde todas e todos tenhamos o mesmo cavimento.
Acho que o primeiro poema que escrevim foi presentado no Día da Mulher Trabalhadora, dedicado e recitado para essa ocasiom num ato organizado pola Assembleia de Mulheres do Condado, em Salvaterra. Depois vinherom mais atos, sempre com um conteúdo reivindicativo, dessa realidade opressora, em diferentes centros sociais: Baiuca Vermelha (Ponte-Areias), A Esmorga (Ourense), Lume (Vigo) e sem esquecer-me das noites mágicas de Penúltimo Acto que se desenvolviam e continuam a se desenvolver no Café-Bar Uf-Negra Sombra, em Vigo, inesquecíveis.
Alguns dos meus poemas vagam pola rede num blogue que permanece à espera da minha reinserçom internauta. Polo demais meus últimos poemas escritos podedes conhecê-los através desta Revista, no número dous, três e por fim neste último número mudando de registo,  mas sem me afastar da atitude reivindicativa caraterística de quase toda a minha escrita.»

(Publicado em Elipse 4)

domingo, 5 de junho de 2016

Bolanda

Bolanda













Ascendiam o mastro as mãos como gardénias.
Um anjo marinheiros pairava na galerna
e um funky de matizes partia águas e terras.
Nas cordas da guitarra floresciam as gestas.
Que noite sem silêncio dançou Bolanda inteira
com ritmo de revoltas na voz de uma sereia,
vestida com um baixo, por alumiar a festa!
Os meninos medravam nos olhares da ria,
furavam uma estrela com ritmo de carícia
áspera de mundo, florescida de espinhas.

Iolanda Aldrei (Galiza)
É licenciada em Filologia Hispânica (Universidade de Santiago de Compostela) e em Filologia Galego-Portuguesa (Universidade da Corunha). Recita e escreve poesia desde a infância. Inica as suas publicações em magazines escolares, para continuar em revistas como Ólisbos, Agália, Nós, Cadernos do Povo, Temas do Ensino, Nova Águia, Boletim da AS-PG ou Azul e participar em recitais em múltiplos lugares da geografia galega e portugues, assim como noutros países. Publicou os livros de poemas A palavra no ar (1990), Memória de nove luas (1994), e o Grimório azul de Samaná (2010). Colaborou nos cadernos de poesía Ao mar de Adentro, 8 e ½; nos livros colectivos Muditações –a partir das fotografias de Carlos Silva, Mulheres, entre poesia e luita (XXV Festial de Poesia do Condado), entre outros. A sua poesia foi incluida em antologias como A mátria da palavra, Antologia da poesia lusófona e Latim em pó.
No ano 1994 estreia a obra teatral Eva Perón da que é co-autora. Conta e publica contos, é docente do ensino secundário, também imparte cursos, participa como organizadora e comunicadora em congresos, seminários e jorandas. Dirige teatro escolar.
Como investigadora tem publicado diferentes artigos sobre língua e literatura.
Blogs pessoais:
daterraverde.blogspot.com  e ajaneladamoura.blogspot.com
(Publicado em Elipse 4)

domingo, 29 de maio de 2016

Arduina

Arduina


Poucas cousas são verdade.
É verdade o pão, o suor das mãos.
O calor do forno, a preguiça da alva.

Celso Álvarez Cáccamo

Começou a sentir as dores, umhas águas mornas escorriam-lhe entre as coxas. De novo estava sozinha como sempre, nengumha pessoa sabia nada do que lhe estava a acontecer. Colheu um pano, enrolou-no e mordeu nele com todas as suas forças. As báguas caíam-lhe como pingas de um orvalho de sangue, nom havia nem tinha ninguém que lhas enxugasse. Nunca tivera o quentor de um agarimo, até que apareceu ele. Foi o primeiro e único homem de quem escuitou umha palavra de ternura, de quem recebeu um sorriso...
Escrequenou-se para facilitar a saída, debaixo tinha uns lenços por se o que vinha lhe escorria das maos, o seu corpo estremecia-se entre dores e aguilhoes... Já estava, a sua cabecinha abria-se caminho, outro ou outra dos condenados da Terra. Ofegava em silêncio, por um intre sentiu umha doira de água geada no seu coraçom. Seguia em cócoras e escarranchou-se todo o possível, naqueles momentos o quarto parecia-lhe um_mausoléu.
Nom lembrava quando começara a trabalhar. A_sua memória dizia-lhe que desde sempre. Desde menina indo apanhar guizos nas touças, de criada guardando as vacas nos pasteiros ou no monte, fosse verao ou inverno. Quando o gieiro convertia as pucharcas em pedras de gelo, mejava dentro das socas e nas suas maos para nom estarrecer de frio. Nom recordava bem como fora, um dia fugira da miséria daquela aldeia perdida entre gândaras e_penedias indo-se colocar de criada em Ourense, e ainda ai iam os antigos amos com os que se criara para lhe pilhar as quatro cadelas que cobrava. Ali conheceu a Ester, fizeram-se amigas pois as duas serviam em casas do mesmo edifício, porta com porta. Ademais pintaram-se bem umha à outra. Um_dia numha dessas conversas confidenciais no_limiar do prédio, contou-lhe o que lhe acontecia com quem a criara, e assim foi como lhe pugérom o_ramo à obra: as duas colhêrom caminho e vinhérom varar à Corunha para deste jeito ela se ceivar daquela servidume.
Estava de novo sozinha. Mazmida, cortou com umha pequena navalha o cordom umbilical, lavando depois numha palangana o recém nado: agora os choros eram  tanto do bebé como dela. De_súpeto todo mudara, nom faria o que tinha cismado durante meses, o de entregá-lo em adopçom. Seria mae.
Eram os tempos do apogeu fariseu e clerical, do zénite da Santa Cruzada Nacional. De ali a pouco apareceria a patrona da pensom mas agora sentia-se forte e nom tinha medo. A pesar da cativez do seu jornal, fizera uns pequenos aforros que lhe vinheram bem para alugar aquele quarto, ainda poderia aguantar dous ou três meses mais sem trabalhar. Logo iria-se a Barcelona onde Ester estava de cozinheira desde havia mais de um ano. Quando se viu abandonada e já estando para parir, escrevera-lhe. Era como se precisasse de alguém achegado para nom ficar sozinha naquele bulheiro... nom tinha mais ninguém. A sua amiga respondera-lhe havia um par de dias oferecendo-lhe a sua ajuda e dando-lhe o seu endereço; à vez avisava-a de que iria recolhê-la na estaçom do comboio. Lá começaria de novo e tiraria da vida, criaria o seu filho até fazer dele um homem de proveito.

José Alberte Corral (Galiza)
Publicado em Elipse 4 e incluido no livro Buracos no espelho.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sem título



Augusto Fontam (Ponte Vedra, Galiza)
É um autor  experimental no cine, é na pintura e a poesia............... solitario e furtivo.
Tem um  BLOG  em situaçom transitoria na sua construçom:
augustofontam.com
(Publicado em Elipse 4)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Maresia matinal!

Maresia matinal!...


Acordamos sobre um lençol de areia,
Numa cama doce de maresia matinal!
No despertar prudente da maré cheia,
Tu és uma mulher atraente e divinal.
Murmuram as ondas, tu és minha sereia,
Encanta-me o teu belo corpo sensual.
O cristalino olhar me prende e rodeia,
Momentos felizes vividos sobre o areal.
Soltamos alegremente todo o fervor,
Nas carícias que trocamos com ardor,
Até o mar se riu com enorme ternura!
O sol manhoso estendeu um cobertor,
Cobriu-nos de carinho, mas com amor,
Fechou os olhos, adorou tal loucura,


Fernando Pereira (Portugal)
(Publicado em Elipse 4)

terça-feira, 3 de maio de 2016

O ventre de Jocasta

O ventre de Jocasta

à Isabel Cristina Rodrigues
É só teu esse festim que no coração adubas.
*
O amor é a lâmina e a lâmina o cântico
e perfumando a lâmina o coração em sangue
algures entre a desagregação do húmus,
*
ou seria somente
a carne o coração da morte que flutua,
corpos do tempo pretérito
de inocentes labirintos,
quando os voos eternos são de púrpura
quando esta dolência me fascina
quando não existe mais nada
e eu pernoito vicioso musgo em ti,
vivo no instante de sonhar
na boca cozida de um deus desconhecido?
*
O mundo cegando cego de fome de ter sol
e o coração é uma utopia áspera, líquida.
*
E quando no coração te alagas
que freixos são os teus
em ave afoita
se o coração no chão da teia não te fecunda?
*
Mastigas pois teus próprios espinhos
já que teu cego coração engoliu a própria rosa.
Dezembro de 2013


João Rasteiro (Portugal)
Poeta e ensaísta. É Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade de Coimbra. Possui poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Moçambique, Itália, Espanha, Finlândia, República Checa, Colômbia, México e Chile. Obteve vários prémios, nomeadamente a «Segnalazione di Merito» do «Concurso Internacional Publio Virgilio Marone» e o «Prémio Literário Manuel António Pina». Em 2012 foi um dos 20 finalistas (poesia) do «Prémio Portugal Telecom de Literatura». Publicou os livros: A Respiração das Vértebras (2001), No Centro do Arco (2003), Os Cílios Maternos (2005), O Búzio de Istambul ( 2008), Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas (2009), Diacrítico (2010), A Divina Pestilência (2011), Tríptico da Súplica (Brasil, 2011), Elegias (2011), e Pequena Antologia da Encenação – 2001/2013: Poemas em ponto de osso (2014). Em 2009, organizou para a revista Arquitrave da Colômbia, a antologia, intitulada «A Poesia Portuguesa Hoje».

(Publicado em Elipse 4)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Aprendizagem da perda

Aprendizagem da perda

É a minha própria casa, mas creio
que vim fazer uma visita a alguém.
Maria Gabriela Llansol

A juvenil primavera das chuvas já não tomba aquí,
a tua morte estranhamente nos nivela nas lâminas
sob o exímio hálito que amadurece a ferida do xisto
com que construímos ocultos falcões no coração,
aprendi à força a tua ausência e a das chuvas
e no entanto pertences-me cada vez mais sob o azul,
o afinco do meu afecto tem uma assombrada presença
dos teus olhos pois é o autêntico afecto do agora,
se o sangue esfria a doce retoma do corpo enxuto
a tua boca de primavera subsistirá infinita como pedra,
pois se te amo me habitas e se me ocupas te guardo,
e porque morta vivendo aprendo apreendendo-te,
a tua presença e a das chuvas é tão verdadeira
que a beleza do amor estará sempre onde te preservo.


João Rasteiro (Portugal)
Poeta e ensaísta. É Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade de Coimbra. Possui poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Moçambique, Itália, Espanha, Finlândia, República Checa, Colômbia, México e Chile. Obteve vários prémios, nomeadamente a «Segnalazione di Merito» do «Concurso Internacional Publio Virgilio Marone» e o «Prémio Literário Manuel António Pina». Em 2012 foi um dos 20 finalistas (poesia) do «Prémio Portugal Telecom de Literatura». Publicou os livros: A Respiração das Vértebras (2001), No Centro do Arco (2003), Os Cílios Maternos (2005), O Búzio de Istambul ( 2008), Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas (2009), Diacrítico (2010), A Divina Pestilência (2011), Tríptico da Súplica (Brasil, 2011), Elegias (2011), e Pequena Antologia da Encenação – 2001/2013: Poemas em ponto de osso (2014). Em 2009, organizou para a revista Arquitrave da Colômbia, a antologia, intitulada «A Poesia Portuguesa Hoje».

(Publicado em Elipse 4)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Marinaleda

Marinaleda
ou celebração da utopia

Marinaleda é uma flor
no meio da planície plantada
pelas mãos dos camponeses
que  souberam
ser mais urgente a água do que névoa.
Utopia será também seu nome,
quando colhe alcachofras e se acende
como um farol que aponta outras chegadas,
a quantos caminhantes se internaram
no resgate de sonhos e ousadias
de uma terra andaluza,  inconformada.
Aqui me cubro inteiro de esperança
tocando o úbere fruto da semente
que suculento aporta a alquimia
de quem soube intentar incitar ventos,
domar os rios,  e erguer o velo aceso da mudança
que antigos camponeses perseguiam.
Reconquistada a água veio o tempo
de fecundar os longes que aguardavam
a festa pressentida e afirmada
em cada punho de trigo fecundado.
E mais do que um aceno ou golpe de asa,
uma visão difusa e deslocada,
Marinaleda existe, vive e permanece
nos trilhos que traçou em chão lavrado.
E nesse sortilégio feito abraço,
que me envolve e desnuda e me contenta,
ouso apenas pedir-lhe que me deixe
juntar o flamenco tom de sua voz
às sílabas festivas de meu canto.


Fernando Fitas (Portugal)
Jornalista e poeta intranquilo, trabalhou em vários diários portugueses nomeadamente em O Século, 24 Horas e Tal&Qual. Fundador e director - durante sete anos- do quinzenário Outra Banda, colaborou ainda em diversos periódicos regionais de norte a sul de Portugal. No domínio da poesia tem várias obras distinguidas com prémios literários. Entre eles, o Prémio de Poesia Cidade de Moura, Prémio Literário Raul de Carvalho e Prémio de Poesia e Ficção de Almada. A sua escrita estende-se da reportagem à ficção, passando pela investigação e  recolha oral em alguns concelhos da Margem Sul do Tejo. Companheiro de José Afonso, na Cooperativa Cultural Era Nova, têm poemas cantados por alguns intérpretes da canção portuguesa, designadamente Luísa Basto e Chiquita.
Possui o blog: 
http://silenciovigiado.blogspot.pt, no qual vai publicando alguma da sua produção poética.
Publicado em Elipse 4)

sábado, 9 de abril de 2016

Gráfica 1



Augusto Fontam (Ponte Vedra, Galiza)
É um autor  experimental no cine, é na pintura e a poesia............... solitario e furtivo.
Tem um  BLOG  em situaçom transitoria na sua construçom:
augustofontam.com
(Publicado em Elipse 4)

terça-feira, 8 de março de 2016

Vídeo de Elipse número 8!

Autoras/autores em Elipse número 8:

Clarisse da Costa (Brasil)
Wlater de Jesus da Costa (Brasil)
Iria Beltrán Gonzalo (Galiza)
Samuel da Costa (Brasil)
Urda Alice Klueger (Brasil)
Virgílio Liquito (Portugal)
Adela Figueroa (Galiza)
Vivaldo Terres (Brasil)
José Alberte Corral (Galiza)
Manolo Pipas (Galiza)
Manuel Blanco Rivas (Galiza)
Vicente Castaño Álvarez (Galiza)
Fernando Fitas (Portugal)
Andréa do Nascimento Mascarenhas (Brasil)
Carmen Pereira (Galiza)
Estêvão do Acácio Chissano (Moçambique)
Narciso Báloi (Moçambique)
Paco Barreiro (Galiza)
Sabela Carballo (Galiza)
Henrique Dacosta (Galiza)
Augusto Fontám (Galiza)
Alfonso Díaz /Foni (Galiza)

Queremos expresar o nosso agradecimento  a tod@s @s colaboradoras/colaboradores de todos os números de Elipse. Ficamos muito gratos.
Alexandre Insua, Cruz Martínez e rosanegra (Círculo Edições).

domingo, 6 de março de 2016

E já chegamos, Elipse número 8!

Continuamos somando Elipses no nosso Universo lusófono. Galiza, Portugal,
Moçambique, Brasil...
Avante a revista Elipse!!.

terça-feira, 1 de março de 2016

Vou descobrir-te por inteira

Vou descobrir-te por inteira

Vou descobrir-te por inteira
Vou dizer que és minha

***

Amar-te para sempre!
Abraçar-te bem forte
Descobrir-te por inteira!!!
Recitar poemas de amor
Ao pé-de-ouvido!!!

***

Descortinar-te
Descobrir-te
Amar-te
Em horas extremas
De forma desesperada

Samuel da Costa (Brasil)
Poeta em Itajaí
(Publicado em Elipse 4)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quérote libre

Quérote libre

O teu corpo é un vimbio mecido polo vento
lixeiro e sensual baixo a lúa de luz engalanada
gromo de fieito en espiral dourada
da túa pequena morte quero ata o último alento

Apuro con avidez do teu embigo volcánico e fecundo
o elixir que me alimenta e me dá vida
debuxo filigranas na túa pel espida
e admiro a elipse dos teus seos rotundos

Quérote amante, e libre e poderosa
sen cadeas que cingan os teus pulsos
quérote viva no teu vivir convulso
para cruzar contigo a noite tenebrosa

Impaciencia, amor, dor, ausencia
palabras novas no meu vocabulario
bebo sorbo a sorbo este fértil silabario
que recito, e gozo, coma unha doce penitencia


Manuel Blanco Rivas (Galiza)
(Publicado em Elipse 4)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O vento

O vento 

De lonxe, namorando vizosas carballeiras,
chega o bruar do vento
primeiro un murmurio
logo, avantando arreo, case un trono

Cendal de noiva da lúa chea
que axexa entre as silveiras
trae lembranzas de fragas ignotas
mestura de infindas esencias

Un can ladra na noite
o corvo dorme no rochedo
e o meu espírito extravíase
ebrio de nostalxias
entre a terra e o ceo


Manuel Blanco Rivas (Galiza)
(Publicado em Elipse 4)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Pero eu dixe, mia senhor

Pero eu dixe, mia senhor

B 408, V 19
LP 9, 8

Pero eu dixe, mia senhor,
que nom atendia per rem
de vós bem, polo grand'amor
que vos sempr'ouvi, al m'end'avem;
u vej'est', ar cuido no al
per que sempr'ouvi por vós mal:
per esso me fezestes bem
sempre levar assaz d'afam
por vós, mia senhor, e por én,
pos outro bem de vós, de pram,
nom ouve, senhor, a meu sén,
sequer por quanto vos servi,
d'aqueste bem cuid'eu de mi
que nom me tolhades vos én
nada, senhor, mentr'e eu viver,
e se vos conveer qu'alguem
dissesse com'eu já perder
tal bem nom posso, que me vem
de vós, terredes, [eu] bem sei,
que nom devia, poi-lo ei
por vós, a tee-l'em desdem.

Afonso Sanches de Portugal.Nobre trovador, filho bastardo e predileto de Dinis I de Portugal, e pretendente ao trono portugués.
(Públicado em Elipse núm. 3)

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Fadista

Fadista

(Fado Singer)

A minha pele está puída em demasia
De mim restam apenas as raízes capilares, os filtros fibrosos
Do nervo do tabaco puro
A tua rede está urdida com cordas de sitar
Para conter as mágoas dos deuses: muito deambulei
Em abóbadas de lágrimas da sublime
Rainha dos tormentos nocturnos, tu tensas
suturas de música para suportar a imposição dos ritos
De vivos e mortos. Tu
Arrancas prantos estranhos da trovoada
Peneiras pedras raras das cinzas lunares, e elevas
Recados nocturnos para o trono da angústia
Ai, há pétalas de mais machucadas
Para perfume, pesa de mais o passo do ar na asa da mariposa
Para uma xícara de pó de arco-íris
Dor de mais, ai, parteira no grito
Da ruptura, dedilha no cordão cósmico, imensas de mais
As dores pascais para um triz do eterno
Livrar-me-ia da tua tirania, livrar-me-ia
De súbitos mergulhos da carne no terremoto
Além de todo o abatimento de juízo
Livrar-me-ia de passeios precipitados
Em resmas de rochas e veias vulcânicas, puxado por corcéis escuros
sobre melódicas rédeas cinzentas.

Wole Soyinka (Abeokuta, 1934. Nigéria)
Primeiro escritor africano que obteve o Nobel de Literatura. Escreveu Fado singer para Amélia Rodrigues em 1988.


Tradução de María Alonso Seisdedos (Galiza)

(Públicado em Elipse núm. 3)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

I

I

Os meus dedos, velozes lápis
transcrevem melodias
monocordes
com delicado equilíbrio.
Um pássaro cansado
borboleteia
os efémeros
pensamentos
de felicidade.
Os meus braços se esticam
a futuros irregulares
fratais
fraturados.
Borboleteando
com delicado equilíbrio
monocorde.

Ro Palomera (Galiza)
Ganhadora do IV Concurso Literário «Rosa de cem folhas» organizado pelo Colégio Oficial de Psicología de Galiza, 2011.
(Públicado em Elipse núm. 3)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Do diário íntimo de Parker & Barrow (III)

Do diário íntimo de Parker & Barrow (III)


Ruído de fundo, distorções gaussianas
fora vai frio mas não chove.
Meu amor!
Mas as rulas cantarão
um blues de reanimação, um
RCP no novo ano
Para que podas levar as tuas esperanças
em cadeiras de rodas
vestidas com pele de guepardo
nas noites infindas
e sinalaremos num mundo
cheio de borboletas azuis
porque o azul precede-nos
o planeta disque é azul
se calhar como o sangue de aristocratas doutro tempo.
Full de reis e ases,
de abondo para continuar no jogo,
no jogo dos beijos
e de fluidos sexuais.
Perdemos toxinas suficientes
Para continuar lutando
enquanto uma cacatua
chisca um olho através duma janela
e sorri.



Alexandre Insua Moreira. (Vigo, 1978. Galiza)Foi colaborador na edição das revistas Panta Rei, Sirxe, e Cen Corvos de Xallas e coordenador editorial da revista Máis que palabras. Pertence á Junta Diretiva da Asociación Cultural O Castro de Vigo. E é o delegado para Galiza da revista Lavra... Boletim de poesia (Porto).
Livros coletivos: 18 - Unha antoloxía de poesia galega-portuguesa (2012), Doces Loucuras - Louvor aos sorrisos. Colectânea Poética (2013), Meis é poesía (2013), Alén do silencio (2014).
Está Licenciado em Filologia Galega e em Filología Hispânica, e especializado em Linguística Geral pela Universidade de Vigo.
Blog pessoal: Impostura de fumador.http://imposturadefumador.blogspot.com.es/


rosanegra [Rosa Martinez Vilas] (Armenteira, 1974. Galiza)Livros coletivos: A porta verde do sétimo andar  (2007), Acción Poética Penúltimo Acto (2010),  MULHERES entre poesia e luita (2011), 18 - Unha antoloxía de poesia galega-portuguesa (2012), Doces Loucuras - Louvor aos sorrisos. Colectânea Poética (2013), Meis é poesía (2013), Versos no Olimpo - O monte Pindo na poesía galega (2013), Versus Cianuro - Poemas contra a mina de ouro de Corcoesto, (2013), Alén do silencio (2014).
Ganhadora do terceiro premio de narrativa Manolo Lado com a obra A bruxa das Galanas, (2002). Ganhadora do terceiro premio de poesia Feliciano Rolán, co poemario Vacaloura dos meus soños, (2009).
Blog pessoal: Sete Bolboretas verdes. http://setebolboretasverdes.blogspot.com.es/
(Públicado em Elipse núm. 3)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Karo


Os Karo na regiom do  rio Omo, Etiopia, som um  povo asentado na ribeira do devandito rio. Os Karo fam parte desse  mosaico multicor formado por um variado feixe de tribos de origem nilótica, entre os que cómpre destacar  a tribo  Hamer, com a que mantém um notável parentesco  cultural, a dizer dos lingüistas, que consideram  que ambos compartilham a mesma fala com variedaes puramente locais. Maior é a diferença entre elas  quanto a sua atividade económica. Os Karo nom estám tam vencelhados à  criaçom de gado, mas ao cultivo de espécies coma o sorgo, ou o milho, também à colheita do mel, e à prática da pesca e a caça.
Gostam muito de embelezar os rostos com pinturas e também com elementos vegetais. Os Karo, ao igual ca outros povos nilóticos som bravos e acostumam mostrar orgulhosos os seus fuzís Kalashnikov, que carrejam com eles a cotio.
Foto: Xiana Díaz. (Galiza)
Moça de 14 anos, afeccionada à fotografia e às viagens.
Texto: Alfonso Díaz [Foni]. (Galiza)
 Afeccionado à fotografia e às viagens.


(Públicado em Elipse núm. 3)