terça-feira, 20 de setembro de 2016

As quatro estações

A primavera

Chegou a Primavera e ledamente
pássaros a saúdam c´o seu canto,
Sob o Céfiro as fontes docemente
com borborinho correm entretanto:
Vão cobrindo o ar com negro manto
anúncios de trono e relustre ardente
ora, depois o pássaro silente
torna de novo ao seu canoro encanto.
E assim, sobre o florido ameno prado
ao querido murmúrio da arvoreda
dorme o cabreiro c´o seu cão ao lado.
Ao som da pastoral sanfonha leda
dançam ninfa e pastor sob teito amado
pois chegou a primavera desta queda.

O verão

Sob a dura estação que o sol acende
esvaece o homem, a grei e arde o pinho;
Solta o cuco a voz e sei que atende,
canta a rola e canta o xilgarinho
Doce sopra o Zéfiro, mas contende
Bóreas aginha c´o seu vizinho;
Chora o pastor porque medoso atende
o trovão e seu fado, mas que está estinho;
Repouso rouba aos membros das canseiras
o medo do relampo e trovoada
e as furiosas moscas da mosqueiras.
São as suspeitas certo verdadeiras,
troa e fulmina o céu e a pedrada
troncha as espigas de trigo altaneiras.

O outono

Celebra o lavrador com baile e cantos
da feliz colheita o contentamento
e acesos de licor de Baco, tantos
no sono findam seu divertimento.
Faz deixar a cada um o baile e cantos
o ar, que tépido dá contentamento,
e a estação que está invitando a tantos
de um doce sono ao divertimento.
À alva o caçador marcha de caça
com cornos, espingarda e cães de raça.
Foge a fera mas, seguem-lhe a pegada;
Aterrada e cansa pola algueirada
de espingardas e cães, ainda ameaça
sem forças já, mas morre asovalhada.

O inverno

Geado aterecer trás neve algente
ao severo morrer de hórrido vento,
correr batendo os pés todo o momento;
por sobejo gelo bater o dente;
Passar ao lume o dia quedo e contente
enquanto a chuva fora molha a cento;
Caminhar polo laço a passo lento
por temor de cair ir continente;
Andar firme, escorrer e baquear,
de novo sobre o laço ir recear
deixando ao andar cristais quebrados;
Sentir silvar pola ferrada porta
Sirocos, Bóreas, ventos alçados.
Isto é o inverno, que ledice aporta.


Tradução de J. André López Gonçâlez
(Publicado em Elipse 4)

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