quarta-feira, 30 de setembro de 2015

No pétreo leito, entre os rais

No pétreo leito, entre os rais

Poema escrito para acompanhar a fotografia
 de Carlos Silva para a publicação digital «munditações»

Porque sou uma mulher coberta de resío
aguardo o sol-pôr espida
Abraçada a um interminável fado
impávida
Coma uma inanimada estatua de sal
projetada cara as vias
dende as janelas brancas de alumínio
Contempla-me! Venho dum naufrágio
Levo gárgulas de pânico na mirada
Acutilo bágoas com os dentes
e empreendo trajetos incertos
Intuo que as memórias
quebram-me coma um vimbio, feble de humidade
Pousam-se-me nos lábios folerpas
e os lobos dos recordos desgarram-me a carne
Sou  uma faquir esmorecida
acima dos caminhos de ferro
Faço-me a dormida
e o zunido do vento rincha-me nos dentes
A chuva desintegra-se em ínfimas partículas
e morre aterecida
no pétreo leito, entre os carris
O  relógio vai cara atrás e o algarismo é um epitáfio
que sucumbe baixo um comboio de mercancias

Cruz Martínez Vilas (Armenteira, 1960. Galiza)
Fundadora de Penúltimo Acto (Acción Poética). Organizadora do ato Círculo Poético Aberto no Café Uf (Vigo). Pertence á Junta Diretiva da Asociación Cultural O Castro de Vigo. Publicou os livros Espelho de mim mesma (Círculo Edições, 2014) e Xerografia em branco e negro (Corpos Editora/Poesia Fã Clube, 2014).
Ganhou, entre outros, o primeiro premio no XXII Certame de Poesía en Lingua Galega Rosalía de Castro, com o poemário Amante tocada pola antropofaxia em 2008, o XXVI Poesía en Lingua Galega Rosalía de Castro, com o poemário Contemplo o proceso inevitábel da despedida em 2012 e o II Certame de Poesía em Língua Galega Manuel María com o poemário O lánguido ocaso dunha dalia.
Blog pessoal: No ollar dun bufo verde. http://noollardunbufoverde.blogspot.com.es/
(Públicado em Elipse núm. 3)

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