domingo, 10 de maio de 2015

Liberdade

Liberdade


Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer

Paul Eluard
Na lembrança de Manolito Belho Parga

Necessito-te, chamo por ti desde esta escuridade, em cada instante da minha existência, sonho que agromarás como vermelha papoula e todo me é mais aturável. Sei-no, sei que te alcançarei. Nom me perguntes, sei-no e avonda.
Acima, pola pequena luzeira, alvisco a claridade do mencer, entra devagar, amodinho, como se nom me quisesse espertar. A luz sempre é mais formosa no seu nascer...., às vezes penso que é a única beleza que nos deixárom: os roivéns e os lubricáns abraiam-me, sempre som novos e diferentes. Que nom saibam desta formosura! roubariam-no-la como fizérom com todo; para eles só tem sentido o dinheiro e o poder. Todo no-lo saqueiam, a mocidade, a inteligência, a vida...., só ossos e músculos nos deixam, ossos para suportar e músculos para trabalhar...
Lembro-me como se o estivesse fazendo agora mesmo; ela já estava na cozinha havia um bom pedaço, aguardava por mim para me dar o almoço... Saim da casa, levava o compango na velha tarteira para logo o quentar ao meio-dia. Com a friagem caminho de pressa cara a paragem do autocarro...
Alto ou disparo! disparou o mui filho da puta. Depois os socos, os baloucaços, as patadas, o interrogatório.... Agora aqui.
Ouço os passos, sempre venhem olhar polo buraco da porta ao findar o toque do cornetim; e som filhos da mesma mae...! Da fame..., porcos....!
Apesar de todo, acadarei-te, sei-no. Todos nós, os párias, faremos-te nossa e jamais nos abandonarás: 
Liberdade.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014, do libro Do lusco-fusco)

José Alberte Corral (A Corunha, 1946. Galiza)
Criou-se na bairro de Monte Alto, na Corunha, jogando entre casas de um andar e ruas alegres e luminosas. Logo, saiu trabalhar e deu en Venezuela. Participou na fundação da Agrupaçom Cultural o Facho e militou em organizações clandestinas contra o franquismo, até fugir para o Chile de Allende, Argentina e Venezuela.
Publicou Del amor y la memoria, poesia em castelá (1ª ed.: Ateneo de los Teques-Venezuela; 2ª ed.: Emboscall-Vic) e colaborou com diversos ensaios em distintas revistas de pensamento político em Venezuela. Logo de retormar á Galiza publicou as seguintes obras: Palabra e Memória, poesia (AGAL, Galiza), Acarom da Brêtema, poesia (AGAL, Galiza), Do lusco-fusco, relatos (Baía Ediçons, Galiza), Detrás da palavra, poesia (AGAL, Galiza), Buracos no espelho, relatos (AGAL, Galiza), O livro de barro, poesia (ToxosOutos, Galiza) 

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