sexta-feira, 24 de abril de 2015

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Quero, num texto sobre pontos negros, pôr a imagem de uma galáxia: é assim que entendo a adolescência. Se é a madrugada que põe os pontos nos iii como se eles fossem gotas de orvalho, o esplendor na relva só surge mais tarde, quando uma apaixonada vontade de foder faz, de cada meio-dia, um momento de maio. É só estar à escuta: os ecos regressam dos poços e repetem o inominável. Suspiram os buracos das agulhas por camelos, baleias brancas, reinos do céu. No fim ou no princípio da história, pode às vezes o prazer ser nacionalizado pelo coração. É a obra ao negro. É a imensidão.


Pedro Ludgero (Porto, 1972. Portugal)
No âmbito da poesia, editou Se o poema tem areia (2001), O fim não é o fim (2004) e Sonetos para-infantis (2010). Ganhou o Prémio Literário de Sintra com a coletânea de contos Leilão de pensamentos (2005). Possui bastante obra inédita. Realizou a curta-metragem Checkpoint Sunset.

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