Aprendizagem da perda
É a minha própria casa, mas creio
que vim fazer uma visita a alguém.Maria Gabriela Llansol
que vim fazer uma visita a alguém.Maria Gabriela Llansol
A juvenil primavera das chuvas já não tomba aquí,
a tua morte estranhamente nos nivela nas lâminas
sob o exímio hálito que amadurece a ferida do xisto
com que construímos ocultos falcões no coração,
aprendi à força a tua ausência e a das chuvas
e no entanto pertences-me cada vez mais sob o azul,
o afinco do meu afecto tem uma assombrada presença
dos teus olhos pois é o autêntico afecto do agora,
se o sangue esfria a doce retoma do corpo enxuto
a tua boca de primavera subsistirá infinita como pedra,
pois se te amo me habitas e se me ocupas te guardo,
e porque morta vivendo aprendo apreendendo-te,
a tua presença e a das chuvas é tão verdadeira
que a beleza do amor estará sempre onde te preservo.
João Rasteiro (Portugal)
Poeta e ensaísta. É Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade de Coimbra. Possui poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Moçambique, Itália, Espanha, Finlândia, República Checa, Colômbia, México e Chile. Obteve vários prémios, nomeadamente a «Segnalazione di Merito» do «Concurso Internacional Publio Virgilio Marone» e o «Prémio Literário Manuel António Pina». Em 2012 foi um dos 20 finalistas (poesia) do «Prémio Portugal Telecom de Literatura». Publicou os livros: A Respiração das Vértebras (2001), No Centro do Arco (2003), Os Cílios Maternos (2005), O Búzio de Istambul ( 2008), Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas (2009), Diacrítico (2010), A Divina Pestilência (2011), Tríptico da Súplica (Brasil, 2011), Elegias (2011), e Pequena Antologia da Encenação – 2001/2013: Poemas em ponto de osso (2014). Em 2009, organizou para a revista Arquitrave da Colômbia, a antologia, intitulada «A Poesia Portuguesa Hoje».
(Publicado em Elipse 4)