segunda-feira, 25 de abril de 2016

Aprendizagem da perda

Aprendizagem da perda

É a minha própria casa, mas creio
que vim fazer uma visita a alguém.
Maria Gabriela Llansol

A juvenil primavera das chuvas já não tomba aquí,
a tua morte estranhamente nos nivela nas lâminas
sob o exímio hálito que amadurece a ferida do xisto
com que construímos ocultos falcões no coração,
aprendi à força a tua ausência e a das chuvas
e no entanto pertences-me cada vez mais sob o azul,
o afinco do meu afecto tem uma assombrada presença
dos teus olhos pois é o autêntico afecto do agora,
se o sangue esfria a doce retoma do corpo enxuto
a tua boca de primavera subsistirá infinita como pedra,
pois se te amo me habitas e se me ocupas te guardo,
e porque morta vivendo aprendo apreendendo-te,
a tua presença e a das chuvas é tão verdadeira
que a beleza do amor estará sempre onde te preservo.


João Rasteiro (Portugal)
Poeta e ensaísta. É Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade de Coimbra. Possui poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Moçambique, Itália, Espanha, Finlândia, República Checa, Colômbia, México e Chile. Obteve vários prémios, nomeadamente a «Segnalazione di Merito» do «Concurso Internacional Publio Virgilio Marone» e o «Prémio Literário Manuel António Pina». Em 2012 foi um dos 20 finalistas (poesia) do «Prémio Portugal Telecom de Literatura». Publicou os livros: A Respiração das Vértebras (2001), No Centro do Arco (2003), Os Cílios Maternos (2005), O Búzio de Istambul ( 2008), Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas (2009), Diacrítico (2010), A Divina Pestilência (2011), Tríptico da Súplica (Brasil, 2011), Elegias (2011), e Pequena Antologia da Encenação – 2001/2013: Poemas em ponto de osso (2014). Em 2009, organizou para a revista Arquitrave da Colômbia, a antologia, intitulada «A Poesia Portuguesa Hoje».

(Publicado em Elipse 4)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Marinaleda

Marinaleda
ou celebração da utopia

Marinaleda é uma flor
no meio da planície plantada
pelas mãos dos camponeses
que  souberam
ser mais urgente a água do que névoa.
Utopia será também seu nome,
quando colhe alcachofras e se acende
como um farol que aponta outras chegadas,
a quantos caminhantes se internaram
no resgate de sonhos e ousadias
de uma terra andaluza,  inconformada.
Aqui me cubro inteiro de esperança
tocando o úbere fruto da semente
que suculento aporta a alquimia
de quem soube intentar incitar ventos,
domar os rios,  e erguer o velo aceso da mudança
que antigos camponeses perseguiam.
Reconquistada a água veio o tempo
de fecundar os longes que aguardavam
a festa pressentida e afirmada
em cada punho de trigo fecundado.
E mais do que um aceno ou golpe de asa,
uma visão difusa e deslocada,
Marinaleda existe, vive e permanece
nos trilhos que traçou em chão lavrado.
E nesse sortilégio feito abraço,
que me envolve e desnuda e me contenta,
ouso apenas pedir-lhe que me deixe
juntar o flamenco tom de sua voz
às sílabas festivas de meu canto.


Fernando Fitas (Portugal)
Jornalista e poeta intranquilo, trabalhou em vários diários portugueses nomeadamente em O Século, 24 Horas e Tal&Qual. Fundador e director - durante sete anos- do quinzenário Outra Banda, colaborou ainda em diversos periódicos regionais de norte a sul de Portugal. No domínio da poesia tem várias obras distinguidas com prémios literários. Entre eles, o Prémio de Poesia Cidade de Moura, Prémio Literário Raul de Carvalho e Prémio de Poesia e Ficção de Almada. A sua escrita estende-se da reportagem à ficção, passando pela investigação e  recolha oral em alguns concelhos da Margem Sul do Tejo. Companheiro de José Afonso, na Cooperativa Cultural Era Nova, têm poemas cantados por alguns intérpretes da canção portuguesa, designadamente Luísa Basto e Chiquita.
Possui o blog: 
http://silenciovigiado.blogspot.pt, no qual vai publicando alguma da sua produção poética.
Publicado em Elipse 4)

sábado, 9 de abril de 2016

Gráfica 1



Augusto Fontam (Ponte Vedra, Galiza)
É um autor  experimental no cine, é na pintura e a poesia............... solitario e furtivo.
Tem um  BLOG  em situaçom transitoria na sua construçom:
augustofontam.com
(Publicado em Elipse 4)