quinta-feira, 16 de abril de 2015

(paronímia)

(paronímia)


As gaivotas estão a ocupar o Porto, cidade aberta. Já ocuparam aquele nicho de mercado que as pombas lentamente construíram no coração das velhinhas de jardim. Já ocuparam os ninhos que desde sempre os cucos armaram nos relógios de parede. E ocuparam também o posto das cegonhas que trazem meninos e meninas da vila de Paris. Os artistas do lugar estão, contudo, a lutar contra tal hegemonia. Já criaram a andouraine e a melrure, e estão agora a trabalhar na pardalette. Por baixo, a cidade, barroca nos ruídos e movimentos que se fundem e confundem,                  dança.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Pedro Ludgero (Porto, 1972. Portugal)
No âmbito da poesia, editou Se o poema tem areia (2001), O fim não é o fim (2004) e Sonetos para-infantis (2010). Ganhou o Prémio Literário de Sintra com a coletânea de contos Leilão de pensamentos (2005). Possui bastante obra inédita. Realizou a curta-metragem Checkpoint Sunset.

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